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A medida que em minha vida fui desenvolvendo cada vez mais e mais modos de ser e ver que eram [complexos e transdisciplinares], foram acontecendo com maior frequencia momentos que eu poderia chamar de “ahas” (como no Dragon Dreaming falam de insights).

Alguns eu diria que até “epifânicos”.

Em um deles me ocorreu que em várias situações e ambientes estamos todos lá, mas não estamos na mesma “dimensão”.

Observei isso em ambientes de aprendizagem, de empreendedorismo social e de inovação social, que é por onde tenho “circulado e flutuado” mais nos últimos 15 anos.

E em um dos meus “ahas epifânicos”, em 2022, escrevi o texto que coloco abaixo, modificado por algumas reflexões.


Eu vivo naquele mundo que “está-quase-acontecendo”, experimentação pura.

Com muita atuação de “enzima” e de polinização.

Vários vivem assim.

É aquele ponto onde “passado-presente-futuro” se encontram.

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São as zonas temporárias de acontecimentos-encontros, (virtuais mesmo que presenciais), onde muita coisa acontece.

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Mas… há (bem) mais que uma, e eu agrupei (na minha visão e fruto de minhas observações) quatro delas:

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Universo da:

  • Experimentação

Onde hipóteses (em toda sua complexidade e cada vez mais transdisciplinares) e sonhos mirabolantes são testados.

Utopias ganham força aqui. E por isso, a inovação social nasce forte por aqui.

Aqui se conversa sobre, e fazem, coisas das quais quase ninguém entende, este é o “paraíso” dos experimentadores.

É onde a ciência (principalmente a mais básica) “mora”.

E onde parte da tecnologia que usa/vai usar esta ciência mora também.

É um universo um tanto solitário, onde quem consegue fazer algo em comunidade e em redes pode ter mais resultados satisfatórios (resultados estes que não contemplam o senso comum do dia a dia ou do último “universo” abaixo).

Pouquíssimos integrantes deste “universo” sabem/conseguem conversar com integrantes dos “universos” abaixo, quase sempre para ter este tipo de conversas significativas precisam de “intermediadores de conversas complexas”.

Serão 1%?

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  • Inovação

Aqui ocorre no mínimo o realismo utópico, porque aqui começam a [ocorrer – pensar – fazer] coisas que mais gente precisa entender.

Aqui se começa a pensar em coisas que podem ser monetizadas.

Aqui “moram” a ciência avançada (mas que já é tratada em equipes institucionais), a tecnologia em geral (mas que já é tratada em equipes institucionais, em locais de pesquisa pública ou privada), a tecnologia “de máquinas” e a tecnologia social.

E cada uma delas tem objetivos, métodos e finalidades diferentes.

Elas podem até se entrelaçar, mas são diferentes.

Aqui se conversa sobre, e fazem, coisas das quais mais alguns entendem.

E aqui estão alguns dos que sabem conversar com os do universo anterior e com os do universo que vem a seguir.

É onde os netweavers-enzimas-tecelões de rede mais circulam.

É também o universo onde uma minoria dos divulgadores da ciência e dos evangelizadores tecnológicos está.

Serão 5%?

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  • Mundo real

Aqui se situa o universo daqueles que adotam “novidades” que chegaram até aqui, vindas dos dois universos anteriores.

Aprendem a usar as tecnologias (“de máquina” e sociais) antes da maioria e entendem o básico de ciência (mas tem dificuldades para discernir quem sabe mesmo o que diz sobre ciência e quem não sabe).

É o universo da maioria dos divulgadores da ciência e dos evangelizadores tecnológicos.

E por aqui também circulam os netweavers-tecelões de rede.

E a monetização é a regra.

E a preocupação com “se é ou não útil” também é a regra.

Aqui se conversa sobre coisas das quais alguns (bem mais que do universo anterior) entendem.

E aqui geralmente não se sabe conversar com alguém do primeiro universo (a não ser que alguém de lá saiba conversar com alguém daqui), conversam com os do universo anterior (com as informações dadas pelo pessoal do universo da Inovação) e conversam bem com os do universo que vem a seguir (são geralmente seu mercado consumidor).

Seriam 20%?

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  • Mundo que não vai mudar

Universo da maioria.

Usam o que todo mundo usa, de roupas a tecnologias, de costumes a hábitos (declarados).

Só mudam quando o universo todo muda e são praticamente “atropelados”.

Só conversam com pessoas do universo anterior, algumas do universo “Inovação” (por interesse destes) e nem sabem que o universo “Experimentação” existe.

Consomem “conhecimentos de almanaque” ou de WhatsApp – Instagram – Facebook e cia (que talvez sejam os “almanaques” do século XXI).

Aqui é o universo do “tradicional” (não confundir com tradições anciãs), do “normal” e do “senso comum” como “banal”, o que “todo mundo usa e sabe”.

Seriam 74%?

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Em qual destes universos você circula?

Em qual você circula (e fica) mais?

Quantos deste universos você já percebeu?


E termino com um exemplo que vi no site InovaSocial:

Assisti a este vídeo abaixo e fico pensando no quanto olhares complexos e transdisciplinares desembocam em uma abordagem biomimética cada vez mais profunda.

“Pavilhão TATU e o futuro da arquitetura com o hempcrete”

https://inovasocial.com.br/solucoes-de-impacto/pavilhao-tatu-hempcrete/

E observo que esta, e várias outras publicações do site InovaSocial, poderiam serem vistas com um “filtro” de qualquer destes quatro universos, mas o que conseguiriam ver e as conclusões a que chegariam seriam pelo menos ligeiramente diferentes, quando não muito diferentes.

Mas também fico pensando em duas coisas a mais:

  • Como possibilitar conversas entre pessoas que estão em universos diferentes que sejam além de “protocolares para cumprir agenda”, e
  • Como possibilitar uma coexistência frutífera e harmoniosa em comunidades, redes, grupos que sejam compostos por pessoas de alguns destes universos?

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